Teus olhos entristecem.
Nem ouves o que digo.
Dormem, sonham esquecem...
Não me ouves, e prossigo.
Digo o que já, de triste,
Te disse tanta vez...
Creio que nunca o ouviste
De tão tua que és.
Olhas-me de repente
De um distante impreciso
Com um olhar ausente.
Começas um sorriso.
Continuo a falar.
Continuas ouvindo
O que estás a pensar,
Já quase não sorrindo.
Até que neste ocioso
Sumir da tarde fútil,
Se esfolha silencioso
O teu sorriso inútil.
Fernando Pessoa, 19-10-1935
Nem ouves o que digo.
Dormem, sonham esquecem...
Não me ouves, e prossigo.
Digo o que já, de triste,
Te disse tanta vez...
Creio que nunca o ouviste
De tão tua que és.
Olhas-me de repente
De um distante impreciso
Com um olhar ausente.
Começas um sorriso.
Continuo a falar.
Continuas ouvindo
O que estás a pensar,
Já quase não sorrindo.
Até que neste ocioso
Sumir da tarde fútil,
Se esfolha silencioso
O teu sorriso inútil.
Fernando Pessoa, 19-10-1935
É triste quando não se é ouvido. Eu sinto-me envergonhada, humilhada quando por momentos me atrevo a partilhar emoções e quando me apercebo, as minhas palavras evaporaram-se no ar e ninguém as apanhou; a pessoa para a qual falei ausentou-se dali no pensamento e depois com um sorriso de perdão me pede que repita o que com tanto esforço tentei exprimir da primeira vez. Pela segunda já me sinto ridícula. "Não é nada" digo eu.
Fernando Pessoa toca bem cá dentro.
Beijo*
Acho que podia ser a destinatária do poema [pelo menos muitas vezes ouço coisas semelhantes a meu respeito e identifiquei-me um cadinho] mas.. a tal distracção ao que dizem é muitas vezes aparente [outras nem tanto, é como tudo suponho] muitas vezes é face à incapacidade de uma resposta suficientemente inteligente que se dá o tal sorriso inútil e os olhos ser perdem no que não existe.
Bem-Vinda
[ah e vdd, eu gosto mui de fazer comments parvinhos ;)]
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