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Apetece-me espetar palavras. Sim, é esse o verbo. Apetece-me espetá-las com fúria só para dizer que escrevo com convicção. Não... Só para dizer que me liberto. Sim, é isso.

sábado, março 26, 2005

Teus olhos entristecem.
Nem ouves o que digo.
Dormem, sonham esquecem...
Não me ouves, e prossigo.

Digo o que já, de triste,
Te disse tanta vez...
Creio que nunca o ouviste
De tão tua que és.

Olhas-me de repente
De um distante impreciso
Com um olhar ausente.
Começas um sorriso.

Continuo a falar.
Continuas ouvindo
O que estás a pensar,
Já quase não sorrindo.

Até que neste ocioso
Sumir da tarde fútil,
Se esfolha silencioso
O teu sorriso inútil.

Fernando Pessoa, 19-10-1935

2 Comentários:

Blogger SweetSerenity comentou...

É triste quando não se é ouvido. Eu sinto-me envergonhada, humilhada quando por momentos me atrevo a partilhar emoções e quando me apercebo, as minhas palavras evaporaram-se no ar e ninguém as apanhou; a pessoa para a qual falei ausentou-se dali no pensamento e depois com um sorriso de perdão me pede que repita o que com tanto esforço tentei exprimir da primeira vez. Pela segunda já me sinto ridícula. "Não é nada" digo eu.
Fernando Pessoa toca bem cá dentro.
Beijo*

26 março, 2005 16:58  
Blogger Perséfone comentou...

Acho que podia ser a destinatária do poema [pelo menos muitas vezes ouço coisas semelhantes a meu respeito e identifiquei-me um cadinho] mas.. a tal distracção ao que dizem é muitas vezes aparente [outras nem tanto, é como tudo suponho] muitas vezes é face à incapacidade de uma resposta suficientemente inteligente que se dá o tal sorriso inútil e os olhos ser perdem no que não existe.

Bem-Vinda

[ah e vdd, eu gosto mui de fazer comments parvinhos ;)]

**

26 março, 2005 17:14  

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