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Apetece-me espetar palavras. Sim, é esse o verbo. Apetece-me espetá-las com fúria só para dizer que escrevo com convicção. Não... Só para dizer que me liberto. Sim, é isso.

sábado, abril 02, 2005

Soneto da infidelidade

Toda a poesia é feita de traição
e ao que somos fiéis já não sabemos:
da terra de que vimos só retemos
memórias que nos duram sem razão.

Escondemos na poesia o que não sabe
seu nome nem seu canto na memória:
escondemos na poesia não vitória,
mas restos de viver, o que não cabe

na fria tábua rasa da experiência
destilando sem fim na consciência
o mais fino licor da emoção.

É infiel ao verso a poesia:
nela se apura a noite contra o dia
e a nós mesmo nos trai no coração.

Luís Filipe Castro Mendes

1 Comentários:

Anonymous Anónimo comentou...

sim senhor...gostei mt..nunca tinha pensado nesta perspectiva das coisas...gostei mt..é a mais pura das verdades :)

02 abril, 2005 17:41  

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