Quando olho para mim não me percebo
Quando olho para mim não me percebo.
Tenho tanto a mania de sentir
Que me extravio às vezes ao sair
Das próprias sensações que eu recebo.
O ar que respiro, este licor que bebo
Pertencem ao meu modo de existir,
E eu nunca sei como hei-de concluir
As sensações que a meu pesar concebo.
Nem nunca, propriamente, reparei
Se na verdade sinto o que sinto. Eu
serei tal qual pareço em mim? serei
Tal qual me julgo verdadeiramente?
Mesmo ante as sensações sou um pouco ateu,
Nem sei bem se sou eu quem em mim sente.
Álvaro de Campos
Este poema está fabuloso. (Como sempre) Não conhecia e ainda bem que o deste a conhecer :)
Cada vez mais que conheço Fernando Pessoa e os seus heterónimos, mais me identifico com o que escrevem. E este retrata bem uma crise existencial. O ser sem o saber talvez. E por vezes, o não aperceber do que fazemos para mais tarde repararmos que não sabemos a razão de muitos actos nossos. Ou as sensações... Ah! Os sentidos que tantas vezes nos atraiçoam. Enfim... não ando com cabeça para divagações, por isso, fico-me por aqui :)
Beijinho*
Adoro este poema! Está marcado na minha "bíblia" de Pessoa... Tb eu já o transcrevi no meu blog um dia... Diz-me tanto... :)
"Eu serei tal qual pareço em mim? serei Tal qual me julgo verdadeiramente?"
Bem escolhido o poema ;)
mua*