Lágrima de Preta
Encontrei uma preta
que estava a chorar,
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar.
Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.
Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.
Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.
Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:
nem sinais de negro,
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio.
António Gedeão
Muito bonito este poema! Todos diferentes, todos iguais!
Rómulo de Carvalho (António Gedeão) soube como poucos demonstrar a riqueza que existe na diferença e na igualdade do ser humano.
Trata-se de um grande nome da nossa literatura, que nos enriquece e que não o esquecemos.
Ainda ontém pude admirar a sua sepultura, no Cemitério dos Prazeres, onde descansa junto de outros grandes escritores portugueses, como por exemplo Natália Correia, Sofia Breyner Andresen, e outros...
Há alguns anos (estava no secundário) soube este poema de cor. Hoje já esqueci algumas partes... Para além do óbvio manifesto anti-racista, muito podemos descortinar para além disso: porque chora a preta? Porque precisamos de analisar a lágrima? Porque haveria de existir ódio? De quem é esse ódio?
Divagações...
; ) ( já disseram td)
Não tenho por hábito comentar blogues com textos que não sejam da autoria do(s) fundador(es) do blogue, mas de qualquer maneira, dou-vos os parabéns por este vosso espaço.
Cumprimentos
a água é uma coisa tão clara. e é na lágrima sentida que somos mais puros.