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Apetece-me espetar palavras. Sim, é esse o verbo. Apetece-me espetá-las com fúria só para dizer que escrevo com convicção. Não... Só para dizer que me liberto. Sim, é isso.

domingo, maio 08, 2005

Lágrima de Preta


Encontrei uma preta
que estava a chorar,
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar.

Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.

Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.

Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.

Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:

nem sinais de negro,
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio.


António Gedeão

6 Comentários:

Blogger Helder Lemos comentou...

Muito bonito este poema! Todos diferentes, todos iguais!

08 maio, 2005 23:01  
Blogger Gustavo Monteiro de Almeida comentou...

Rómulo de Carvalho (António Gedeão) soube como poucos demonstrar a riqueza que existe na diferença e na igualdade do ser humano.

Trata-se de um grande nome da nossa literatura, que nos enriquece e que não o esquecemos.

Ainda ontém pude admirar a sua sepultura, no Cemitério dos Prazeres, onde descansa junto de outros grandes escritores portugueses, como por exemplo Natália Correia, Sofia Breyner Andresen, e outros...

09 maio, 2005 00:13  
Blogger HRC comentou...

Há alguns anos (estava no secundário) soube este poema de cor. Hoje já esqueci algumas partes... Para além do óbvio manifesto anti-racista, muito podemos descortinar para além disso: porque chora a preta? Porque precisamos de analisar a lágrima? Porque haveria de existir ódio? De quem é esse ódio?

Divagações...

09 maio, 2005 15:19  
Blogger Pirikato comentou...

; ) ( já disseram td)

10 maio, 2005 18:34  
Blogger DT comentou...

Não tenho por hábito comentar blogues com textos que não sejam da autoria do(s) fundador(es) do blogue, mas de qualquer maneira, dou-vos os parabéns por este vosso espaço.
Cumprimentos

11 maio, 2005 03:00  
Blogger maresia comentou...

a água é uma coisa tão clara. e é na lágrima sentida que somos mais puros.

20 maio, 2005 15:06  

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