XXV Poema duma Guardadora de Ausências
À mesa deste café
Traço a caligrafia das palavras nunca escolhidas.
Neste tampo circular, de intacto vidro espelhado,
repousa a chávena de café - um tempo irreversível.
Uma bruma invade a sala;
e a onda de fogo dum olhar contido incendeia a palavra,
a única palavra que reinventei e quero ousar escrever.
Docemente, giram no tampo da mesa circular
os sentires dos hieróglifos duma caneta
que, presa entre o indicador e o polegar,
rasteja como uma tímida serpente de luz
sobre os suaves caracteres (ah, tão inábeis!)
da palavra "amo-te".
Bernadete Costa*, A Guardadora de Ausências
2000
*poetisa barcelense
Traço a caligrafia das palavras nunca escolhidas.
Neste tampo circular, de intacto vidro espelhado,
repousa a chávena de café - um tempo irreversível.
Uma bruma invade a sala;
e a onda de fogo dum olhar contido incendeia a palavra,
a única palavra que reinventei e quero ousar escrever.
Docemente, giram no tampo da mesa circular
os sentires dos hieróglifos duma caneta
que, presa entre o indicador e o polegar,
rasteja como uma tímida serpente de luz
sobre os suaves caracteres (ah, tão inábeis!)
da palavra "amo-te".
Bernadete Costa*, A Guardadora de Ausências
2000
*poetisa barcelense