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Apetece-me espetar palavras. Sim, é esse o verbo. Apetece-me espetá-las com fúria só para dizer que escrevo com convicção. Não... Só para dizer que me liberto. Sim, é isso.

sábado, abril 09, 2005

Além-Tédio


Nada me expira já, nada me vive -
Nem a tristeza nem as horas belas.
De as não ter e de nunca vir a tê-las,

Fartam-me até as coisas que não tive.

Como eu quisera, enfim de alma esquecida,
Dormir em paz num leito de hospital...
Cansei dentro de mim, cansei a vida
De tanto a divagar em luz irreal.

Outrora imaginei escalar os céus
À força de ambição e nostalgia,
E doente-de-Novo, fui-me Deus
No grande rastro fulvo que me ardia.

Parti. Mas logo regressei à dor,
Pois tudo me ruiu... Tudo era igual:
A quimera, cingida, era real,
A própria maravilha tinha cor!

Ecoando-me em silêncio, a noite escura
Baixou-me assim na queda sem remédio;
Eu próprio me traguei na profundura,
Me sequei todo, endureci de tédio.

E se me resta hoje uma alegria:
É que, de tão iguais e tão vazios,
Os instantes me esvoam dia a dia
Cada vez mais velozes, mais esguios...

Mário de Sá Carneiro
Paris, 15-5-1913

3 Comentários:

Blogger Conceição Paulino comentou...

Mário de sá Carneiro - um dos nossos maiores poetas. Bom domingo. Bjs e;)

10 abril, 2005 09:05  
Anonymous Anónimo comentou...

TMara: :) pa ti tb

apenas o cidadão: Pois..acho k tds sentimos um pouco..em escala igual ou menor

10 abril, 2005 12:28  
Blogger HRC comentou...

O poder do sentir mata-nos, mas também nos leva ao céu.

(Obrigado pela visita)

11 abril, 2005 15:02  

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