O vento geme lá fora
O vento geme lá fora
com um sotaque europeu.
Por dentro a sombra demora,
e há na alma um órfão que chora:
nada é próprio, nada é meu.
A noite passa, rangendo
sobre o que é casa e lugar.
E aos poucos vou me esquecendo,
vou como uma água descendo,
até o sono chegar.
Na confusão que, no escuro,
o pensamento contém
(a arder, impreciso e obscuro),
confio-me – ermo – ao futuro,
espero a paz de Ninguém.
O vento geme lá fora,
a se esgarçar nos beirais.
Pesa uma angústia sobre a hora,
e agora é como se outrora
e eu mesmo já não sou mais.
Renato Suttana